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Destaque

Pesquisadora da UFU é destaque como bolsista da Capes

Catarina Azeredo busca conectar a universidade e a sociedade com ações diretas

Publicado em 18/04/2024 às 15:11 - Atualizado em 25/04/2024 às 08:31

Segundo Azeredo, sua família e vivência em Belo Horizonte inspiram suas escolhas profissionais. (Foto: Milton Santos)

Cooperação é o ato de/ou resultado de prestar ajuda; é uma ação conjunta com uma finalidade. Essa é a palavra que resume a atuação de Catarina Machado Azeredo, diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (Famed/UFU): toda sua trajetória é traçada em cooperação.

Ela realizou o ensino médio em um colégio técnico de Belo Horizonte, onde professores, que já eram mestres e doutores, abordaram e ampliaram a sua perspectiva em relação a ser pesquisadora. Quando iniciou a graduação em Nutrição, em 2002, logo se envolveu em projetos sobre desigualdade social e saúde coletiva.

Mesmo com as influências escolares, sua família e sua criação são as principais norteadoras de sua carreira. Mais velha entre quatro irmãos, Azeredo aprendeu desde cedo a perceber as desigualdades que a cercava: “Eu cresci com uma mulher muito forte, que é a minha mãe. Ela criou a nós quatro sozinha, com um salário de professora de ensino da rede básica, que a gente sabe que não é muita coisa, mas sempre tivemos uma família muito unida, porque a gente realmente tinha que trabalhar como uma equipe”, conta a nutricionista.

Enquanto pesquisadora, ela prioriza pesquisas que ofereçam espaço ao coletivo, pois o impacto social gerado na esfera pública revela os aspectos individuais e não o caminho contrário: “Comer não é uma escolha individual e isso para mim sempre foi muito claro: comer é resultado de escolhas políticas e são atos culturais. O acesso aos alimentos é diferente, a disponibilidade física e financeira são diferentes”, explica Azeredo.

Focando em projetos de extensão que fomentem soluções e/ou melhorias para a sociedade, a professora relata que mesmo simples, eles geram impactos diretos. Um exemplo disso foi um projeto de extensão realizado com merendeiras em uma escola de Uberlândia. Segundo Azeredo, os alunos não comiam inhame e o desperdício era muito grande na escola. Com isso, ela e outros integrantes do projeto fizeram preparações diferentes e possíveis de serem replicadas, oferecendo durante os intervalos uma degustação. A adesão foi tanta que o legume passou a integrar a dieta dos estudantes, o que evidencia como a universidade pode e deve desempenhar ações diretas na sociedade.

Para o futuro, assim como no projeto citado, a pesquisadora acredita que destacar o fator social é importante para dissipar as desigualdades. Azeredo imagina uma universidade mais equânime em que, de fato, as práticas realizadas internamente sejam baseadas em evidências e possam ser o reflexo de uma sociedade melhor.

“Então, acho que para o futuro, eu possa colocar meu tijolinho de contribuição na UFU para a gente se tornar uma instituição, ainda mais, de excelência, mais inclusiva. Que a gente possa construir um novo melhor, porque, de certa forma, isso ajuda a construir uma sociedade melhor também. Então, pensar em políticas institucionais que perpassam essas questões que permeiam a sociedade e a universidade”, finaliza a pesquisadora.

 

Bolsista destaque da Capes

Foto colorida com mulher branca, de cabelos loiros, trabalhando enquanto olha para um notebook
Catarina acredita que uma universidade mais equânime pode ser o reflexo de uma sociedade melhor. (Foto: Milton Santos)

Recentemente, a pesquisadora foi destaque de produtividade na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Em entrevista para a agência, Azeredo respondeu perguntas sobre carreira e a presença das mulheres na ciência, reproduzidas a seguir:

 

Ao longo da sua carreira acadêmica, você tem defendido a presença das mulheres na ciência. Qual é a importância do olhar feminino na pesquisa?

As mulheres, de todas as cores e classes sociais, são fundamentais para a ciência, porque o olhar da pesquisadora sobre o objeto de estudo é influenciado por todas as experiências e vivências. Não existe ciência neutra e ter o olhar feminino amplia a diversidade de perspectivas e olhares sobre qualquer temática, ampliando a própria compreensão científica dos diferentes temas. Além disso, ter mulheres fazendo ciência significa ter representatividade feminina, o que inspira e abre portas para outras meninas e mulheres saberem que é uma carreira possível, não só para os homens. Eu tive a sorte de ter como coorientadora de doutorado uma grande pesquisadora, Renata Bertazzi Levy, que é muito generosa no compartilhamento de conhecimentos, uma mentora exemplar para outras mulheres e uma inspiração, por estar dentre os pesquisadores mais influentes do mundo. Hoje, como orientadora de dois programas de pós-graduação, tento fazer o mesmo por outras mulheres.

Quais têm sido as suas linhas de pesquisa?

A minha linha de pesquisa principal é em desigualdades em saúde, mas também atuo em pesquisas sobre o ambiente alimentar físico e digital, sobre associações da violência com o consumo alimentar e estado nutricional, com foco na população adolescente e adulta. Todas essas pesquisas estão enquadradas na área de saúde coletiva e epidemiologia, e possuem como foco os problemas de saúde numa perspectiva populacional. O Brasil ainda precisa avançar em políticas para proteger os grupos mais vulneráveis para os principais fatores de risco para as doenças estudadas. Para a obesidade, por exemplo, temos necessidade de melhorar a regulação da rotulagem nutricional, implementar políticas de restrição de marketing de alimentos não saudáveis, de proteção do ambiente alimentar escolar e do trabalho e de taxação de alimentos não saudáveis, além de necessitarmos de políticas amplas de promoção de uso de transportes ativos e disponibilidade de espaços públicos para a prática de atividade física, em especial nos bairros mais periféricos. Essas políticas certamente ampliariam o acesso à alimentação saudável e atividade física nos grupos com menor acesso, reduzindo consequentemente diversas Doenças Crônicas não Transmissíveis, que possuem a obesidade como causa comum.

Ao ingressar na pós-graduação, qual foi o seu maior objetivo?

Meu grande objetivo era ter conhecimento sobre o método científico, desenvolver competências em pesquisa para ser capaz de responder perguntas e trazer respostas que atendam às demandas da sociedade. Esse é para mim um objetivo contínuo e tenho tentado responder a perguntas com interesse social desde o início de minha carreira e, sempre que penso em iniciar um novo projeto, me pergunto a quem ele servirá. No mestrado, comparei duas formas de suplementação preventiva com sulfato ferroso para crianças menores de um ano e nossos resultados contribuíram, junto com outras evidências, para a reformulação de uma política pública nacional. Atualmente, pesquiso desigualdades sociais em saúde, em especial, na alimentação e em outros comportamentos relacionados à saúde. Esses resultados evidenciam a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso aos determinantes sociais da saúde para os grupos vulneráveis, como forma de reduzir o adoecimento populacional. 

De que forma a bolsa da Capes contribui para sua formação?

Um momento muito significativo do meu doutorado foi quando tive a oportunidade de fazer um período de doutorado-sanduíche em Londres, a partir de uma parceria que meu orientador possuía. Durante a minha formação, eu não tive a oportunidade de estudar inglês, tampouco havia saído do Brasil. Então, quando surgiu essa possibilidade, precisei investir muito no aprendizado de uma língua estrangeira. Consegui a bolsa do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE) pela Capes e passei sete meses na Inglaterra em uma das melhores instituições da área de Epidemiologia do mundo, a London School of Higyene and Tropical Medicine, e consegui uma formação diferenciada, além de ampliar parcerias internacionais e melhorar minha fluência em inglês. Essa oportunidade foi muito marcante em minha formação. Após isso, concorri a um edital da Capes para professor-visitante júnior em Harvard e tive meu projeto aprovado entre os dez projetos selecionados no Brasil todo. Foi muito importante ter mais essa oportunidade de passar um ano em uma instituição reconhecida mundialmente para minha consolidação em pesquisa e ampliação de parcerias internacionais. Então, apesar do desafio do financiamento insuficiente para pesquisas no Brasil, as agências de fomento tiveram um papel muito importante para minha formação científica.

 

Com informações de CGCOM/CAPES.

 

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Palavras-chave: #Ciência destaque Capes Catarina Azeredo

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